Tradusa ― Encontro de Tradutores Especializados na Área de Saúde

Maria Inês Corrêa Nascimento

Nos dias 22 e 23 de maio, aconteceu o Tradusa – Encontro Brasileiro de Tradutores Especializados na Área de Saúde, que reuniu tradutores, estudantes e profissionais especializados em tradução médica. Foi o primeiro encontro especificamente organizado para tradutores na área de ciências biológicas.

Várias palestras, sorteios e a oportunidade de um excelente networking fizeram do evento um sucesso entre os tradutores. O encontro foi promovido pelo grupo Tradutores/Saúde, criado e administrado por Cátia Franco de Santana e Samantha Abreu, e ocorreu no Instituto Phorte Educação em São Paulo.

O primeiro dia do evento foi aberto pela palestra da Dra. Ana Julia Perrotti-Garcia (associada à ATA), que discorreu sobre erros frequentes na tradução de textos de odontologia. Ela falou sobre os principais problemas e desafios terminológicos da tradução de odontologia, como polissemia, contexto, designação de processos, registro, localização e falsos cognatos.

Em seguida, Ana Iaria (associada à ATA com direito de voto) explicou em sua palestra a relação entre contratos e remédios, detalhando os diferentes tipos de contratos, acordos, NDAs e demais instrumentos legais por vezes envolvidos na tradução médica, principalmente em se tratando da Bioética.

A terceira palestrante do dia, Maria Célia Ramos Bellenzani, voltou-se para as peculiaridades da tradução técnica em medicina veterinária e zootecnia, atentando para a existência de poucos profissionais qualificados na área. Ela detalhou a anatomia animal em relação à anatomia dos seres humanos, aconselhando os tradutores a estarem sempre atentos a uma pesquisa focada e atenta e à consulta a profissionais da área.

Em seguida, Juliana Samel (associada à ATA com direito de voto) apresentou sua palestra sobre terminologia médica, apontando onde pesquisar, quais as fontes de pesquisa e como deve ser a atualização do tradutor na área de saúde. Ela destacou, entre outros pontos, a importância de se observar o público-alvo da tradução, o registro dos textos médicos, a avaliação da qualidade das fontes de informação e as diversas fontes de pesquisa confiáveis.

Val Ivonica veio em seguida com sua palestra “Quimiquês for Dummies”, na qual explicou os conceitos básicos da química e a formação de compostos tão frequentes nos textos médicos, exemplificando tudo com vários exercícios para verificar a compreensão dos presentes sobre os conceitos apresentados.

A interpretação em cenários médicos foi o tema da apresentação de Patrícia Gimenez Camargo, que fez um paralelo da situação da interpretação em contextos médicos no Brasil e nos Estados Unidos. Ela explicou a formação desses profissionais e os problemas da profissionalização, como ausência de intérpretes médicos qualificados e a necessidade crescente da formação de profissionais nessa área para atuarem em hospitais e na comunidade. Os métodos de interpretação em vários ambientes de saúde também foram discutidos.

Fechando o primeiro dia do evento, Tracy Smith Miyake (associada à ATA com direito de voto) falou sobre a versão na área de ciências biológicas, seus métodos e suas ferramentas. Ela apontou para a demanda crescente desses serviços e para a importância de o tradutor saber quem é o leitor final e como falar com ele. Para tanto, Tracy acredita ser fundamental o uso de guias e manuais de estilo, o bom conhecimento e uma boa redação de textos científicos na língua de destino, bem como a revisão final por um tradutor da língua de destino.

O segundo dia do Tradusa, mais voltado para palestras de conhecimentos específicos para o tradutor na área de saúde e uma mesa-redonda, começou com a palestra de Larissa Pugliese de Siqueira sobre tipos e fases de pesquisa clínica. Ela explicou o que é uma pesquisa clínica, detalhou os processos envolvidos em cada fase, os objetivos e as diversas etapas, destacando os órgãos ligados à saúde e a nomenclatura em pesquisa clínica.

Samantha Abreu veio em seguida levar todos a uma viagem ao mundo dos exames laboratoriais, do hemograma ao western blot. Ela explicou cada termo específico que encontramos nos diversos tipos de exames e esclareceu diversos erros terminológicos.

Em seguida, fiz parte da mesa-redonda que também reuniu a Dra. Ana Julia Perrotti-Garcia e Suzana Gontijo, tradutoras da área de saúde, cada qual em sua especialidade. Apresentamos um panorama do mercado de tradução médica no Brasil, discutindo com a plateia a atual situação desse mercado em seus diversos nichos (tradução médica editorial, interpretação, artigos científicos etc.), os problemas de cada área e as perspectivas para o futuro. Algumas conclusões unânimes foram a necessidade de formação e especialização do tradutor médico, atualização constante, pesquisa focada e segura e o extremo zelo na execução da tradução, buscando sempre oferecer o melhor trabalho com a melhor tarifa possível e em tempo razoável para tradutor e cliente. A autovalorização do tradutor médico também foi debatida.

Fábio Henrique Soares de Santana apresentou em seguida os conceitos básicos do eletrocardiograma (ECG), explicando a anatomia e o sistema de condução do coração. Ele ilustrou o posicionamento de eletrodos, derivações e interpretação de ondas impressas ―conhecimentos fundamentais para o tradutor frente a um texto sobre esse exame.

Patrícia Rocha ofereceu um panorama sobre a validação linguística de questionários médicos, diários, escalas e demais instrumentos envolvidos nos desfechos relatados pelos pacientes, contando sobre o seu trabalho na área, os desafios superados e as lições aprendidas para os tradutores que desejam trabalhar com essas ferramentas. Ela destacou a adaptação linguística e cultural dos instrumentos traduzidos e o conjunto de etapas da validação linguística que o tradutor deve seguir nessa tarefa, a fim de garantir o pleno entendimento do público-alvo e o uso eficaz desses instrumentos pelo cliente.

Fechando o evento, a palestra feita por Joana Fonseca Correia sobre conceitos e terminologia da implantologia ilustrou para os presentes o que é implante dentário, o planejamento do implante, estruturas anatômicas envolvidas, tipos de implantes dentários e próteses, com a apresentação de um vídeo breve destacando as técnicas.

Por fim, o encerramento contou com sorteios e um coquetel, no qual os participantes puderam trocar contatos, impressões e anseios.

O Tradusa foi um sucesso absoluto, com palestras de alto nível, discussões interessantes, e certamente é um evento em tradução médica que veio para ficar!

Maria Inês Corrêa Nascimento, bacharel em Tradução Bilíngue pela PUC-RJ, iniciou a carreira como revisora e tradutora em empresas como Price Waterhouse e Ernst & Young e, como profissional autônoma, presta serviços de tradução (inglês > português) para empresas na área de Oil & Gas e RH. A partir de 1997, passou a trabalhar exclusivamente na área de tradução médica, traduzindo artigos científicos de periódicos como Jama, além de inúmeros livros de medicina para editoras especializadas. É associada à ATA e faz parte da PLD e da Medical Division.

Resenha publicada originalmente no blog da ATA PLD

publicação original: http://www.ata-divisions.org/PLD/index.php/2015/06/17/tradusa-encontro-de-tradutores-especializados-na-area-de-saude/

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