Alessandra Harmel
Ao dar início a um semestre letivo, em cursos de graduação ou de pós-graduação em Tradução e Interpretação, geralmente pergunto aos alunos para os quais ministro disciplinas pela primeira vez – quer sejam calouros ou veteranos – qual seu background e por que escolheram se graduar ou especializar em Tradução. As respostas são tão variadas… No Bacharelado, uma pequena parcela de estudantes já conta com experiência na área. Eles frequentemente declaram que pretendem ser tradutores literários com a finalidade de ganhar dinheiro e prestígio com obras consagradas ou inéditas; aqueles mais sinestésicos e “antenados” planejam traduzir legendas para filmes e games; outros ainda, em sua singeleza, dizem que desejam aprender “inglês”, que é o idioma frequentemente habilitado nos cursos de educação superior. Interessante apontar: afirmam categoricamente que o idioma é aprendido de modo mais eficaz em um curso de tradução. Com relação aos participantes de pós-graduação, têm eles um escopo levemente mais definido: se especializar mais em alguma área de sua preferência ou ainda dar rumo a outra carreira utilizando assunto sobre o qual já tenham certo domínio. Ainda assim, são de áreas diversas objetivando confluência.
Após vários relatos e afinidades compartilhadas, delicadamente procuro dar uma narrativa mais linear a essas múltiplas expectativas. Afinal, são tantas as possibilidades em meio a um público tão diversificado. Dou introdução à fala com minha própria experiência – que na sequência de fatos não é tão diferente da deles assim – já trazendo alguma noção de terminologia para o uso presente e futuro: o que é uma universidade, o que é formação acadêmica, a importância da pesquisa, a necessidade primordial de leitura e letramento, o que é área de especialidade, o que é gênero, a diferença entre tradução e interpretação enquanto funções do profissional, e ainda breves menções a gerenciamento de carreira profissional. A aula finda. Em ambiente presencial os olhos brilham, recebo vários apertos de mão e já alguns abraços e beijos e, na semana seguinte, continuamos, juntos (pois faço questão da interação!), a desenvolver o discurso. Em ambiente virtual, interessantemente, “os olhos também brilham”: comentários sempre interessantes e positivos – por escrito no chat ou ainda com habilitação de câmera e microfone – demonstram que mesmo à distância podemos sentir lá a motivação; só precisa ser estimulada e orientada.
À medida que as semanas e aulas vão passando, uma miríade de informações e atividades – teóricas e práticas – são compartilhadas, desenvolvidas e experienciadas. Os alunos já podem perceber que não só de conhecimento linguístico vive o tradutor ou intérprete. Há muito mais envolvido na função do profissional do que meramente transpor, por escrito ou oralmente, de um idioma para outro. Seu conhecimento deve ser acerca de áreas de especialidade nas quais seu trabalho venha a ser otimizado e bem remunerado e que farão com que se distinga entre seus pares e no mercado. Além disso, deverá, idealmente, permear outras áreas a fim de que não se perca na ilusão de que já está em perfeita compleição; e, além disso, poder atender a outro público ou a outros clientes futuramente. Afinal, essa é uma das magnitudes da prática: estar sempre em evolução.
Dentre as boas sugestões para possibilitar essa evolução estão a de orientação e o convite a participar de cursos, palestras, oficinas e eventos sobre as áreas a serem escolhidas pelos estudantes em formação ou profissionais em especialização, a fim de que tenham o conhecimento expandido e apropriado linguisticamente assim como terminológica e tecnicamente. Entender os processos, o funcionamento, as rotinas, os jargões e os termos perfazem condição sine qua non para um trabalho de tradução ou interpretação realizado com qualidade. E isso, certamente, fará com que sejam alcançados os objetivos de compartilhamento de informação e cultura – além da satisfação do cliente e do público alvo!
Dentre os eventos, tenho o privilégio de contribuir em parte com a Comissão Organizadora do TRADUSA. Pelo fato de ser um entusiasta de certames dessa natureza, que reúne profissionais respeitados e acolhedores da área da tradução e da saúde, com grande alegria e confiança promovo em meio a meus alunos um processo seletivo para que participem como monitores nos dias de atividades do Encontro. É um trabalho voluntário que a eles rende muito mais que horas complementares em seus históricos e certificação para seu currículo: é uma oportunidade real de estarem em meio a profissionais probos e de alto nível que propiciam, na sua generosidade e profissionalismo, o compartilhamento de informações e experiências valiosas, e de momentos únicos de aprendizado sobre tecnologia, ciência, relações interpessoais e humanidade. Ademais, esse networking ou círculo de relacionamento especificamente tão amplo é o que se leva para os vínculos futuros. Nada se compara a essa sensação de presenciar tais instâncias de interesse mútuo e benfazejo.
Pode-se claramente notar que eventos como o TRADUSA, congregando – como já mencionado anteriormente – os profissionais da área de saúde e os profissionais da tradução e interpretação que objetivam igualmente seu desenvolvimento pleno, têm se mostrado muito frutíferos a todos que dele participam. O TRADUSA, especialmente, o faz de forma competente e simpática, haja vista o sucesso e a adesão em todas as suas edições. Essa informação é por nossa comunidade compartilhada e o evento aguardado sempre com expectativa pelos alunos – quer seja como candidatos a monitores ou como membros pagantes. Com essa filosofia e mentalidade, e com o andamento das aulas e encontros, procura-se delinear o objetivo de nos tornamos “a ponte” entre os povos, as culturas e os profissionais de diferentes idiomas. Salienta-se a conscientização sobre o que tange a ética, expertise e responsabilidade social e jurídica que vai se tornando, então, mais consistente e homogênea. É sensível a convergência: não se considera mais somente o que o tradutor aspirante em formação/especialização deseja individualmente; pensa-se no que vai desenvolver para servir ao propósito profissional e no que vai legar aos próximos na evolução da humanidade.
Alessandra Harmel é tradutora Pública e Intérprete Comercial nomeada e em função ativa desde 2000. Professora Mestre em Cursos de Bacharelado em Tradução, Interpretação e Língua Inglesa na FMU. Docente de Graduação e Pós-Graduação nas áreas de Tradução, Letras e de Administração de Empresas e Ciências Contábeis (Uninove e Universidade Anhanguera). Possui graduação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), Mestrado em Letras – Estudos da Tradução pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), Pós-Graduação em Direito Empresarial e Processo Civil pela FMU e Pós Graduação em Metodologias e Gestão de Educação à Distância Universidade Anhanguera.