Leila Maria Gumushian Felipini
As publicações na área da tradução científica não são tão frequentes em periódicos cuja temática seja relacionada aos estudos da tradução. A grande maioria das pesquisas que envolve tradução de protocolos e questionários na área da saúde, por exemplo, são publicadas em periódicos de suas respectivas áreas, como os da Fonoaudiologia e da Odontologia. Tal situação demonstra ser essencial discutirmos o papel do tradutor nessas pesquisas e passarmos a divulgá-las em eventos e periódicos da tradução.
Na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB), um dos campi da Universidade de São Paulo, o tradutor é um dos profissionais que pode participar do programa de pós-graduação em Ciências. Nos últimos anos, protocolos, questionários, testes e conteúdo de livros, sites e cursos vêm sendo traduzidos por professores e egressos do curso de Letras-Tradutor do Unisagrado (Bauru-SP). Essa abertura para nós tradutores indica que aos poucos os profissionais da saúde estão percebendo a necessidade e a importância de nós tradutores participarmos dessas pesquisas como forma de garantir que essas traduções tenham seus conteúdos não só validados, mas também façam sentido no que se refere às suas intenções.
Além de garantir uma qualidade maior das traduções no que se refere à padronização do conteúdo, à qualidade da linguagem e à sua adequação ao público-alvo, a nossa participação garante que questões culturais sejam levadas em consideração e, consequentemente, ocorram adaptações ou mesmo omissões visando a uma equivalência entre a realidade do público-alvo do texto de partida e a do texto de chegada.
Tipos de alimentos ou bebidas, hábitos, atividades de rotina e características do meio estão entre as questões que devem ser avaliadas quanto à sua aplicabilidade no contexto do público-alvo do texto de chegada. Podemos citar como exemplo a substituição de suco de tomate por suco de goiaba em um questionário que solicita que pacientes indiquem os tipos de bebida que costumam beber, uma vez que o suco de tomate não é tão comum no Brasil como é nos Estados Unidos.
Substituir o pudding de chocolate da culinária norte-americana pelo mousse de chocolate da culinária brasileira, substituir o barulho de uma máquina de remoção de neve pelo barulho de um trator (dependendo do meio em que o público-alvo do texto de chegada se encontra), ou mesmo considerar que um paciente brasileiro enfrenta maiores dificuldades para chegar ao hospital do que um paciente dinamarquês faz parte do papel do tradutor nos processos de tradução desenvolvidos nessas pesquisas da área da saúde. Para tanto, o tradutor precisa fazer uso tanto do seu conhecimento linguístico como do seu conhecimento extralinguístico.
Para finalizar, acredito ser importante salientar que cabe a nós tradutores reforçarmos a relevância de nossa participação nessas pesquisas compartilhando nossas experiências e informando aqueles profissionais que ainda não reconhecem ou não compreendem o trabalho do tradutor.
Espero ouvir um pouco de vocês agora. Meu e-mail de contato é leila.felipini@unisagrado.edu.br.
Profa. Dra. Leila Maria Gumushian Felipini
Bacharel em Tradução (USC Bauru)
Mestre em Linguística Aplicada (PUC-SP)
Doutora em Ciências (FOB / USP)