Traduzindo o Tradusa 2017

Ligia Ribeiro

Fim de semana frio em São Paulo, com temperaturas baixíssimas, mas em uma sala localizada em um prédio, na região da Bela Vista, o calor se fazia presente.

Mais de 100 tradutores se reuniram durante dois dias para o III Encontro Brasileiro de Tradutores Especializados na Área da Saúde – o Tradusa 2017. Muito além de ser apenas um encontro de tradutores e intérpretes que atuam em diversas especialidades médicas, o Tradusa é uma oportunidade de troca de experiências entre esses profissionais, de assimilação de novas terminologias e de conhecimento de novas ferramentas e recursos que otimizam os projetos de tradução e interpretação.

Em pleno domingo congelante, às oito horas da manhã, os participantes da palestra de Martha Gouveia da Cruz, “Atividade prática para a saúde do tradutor”, caminham descalços pela sala, fazendo movimentos específicos com bolinhas, em prol de benefícios físicos. Sim, como trabalhar com saúde se você não cuida do seu próprio bem-estar? Passar horas sentado diante de uma tela de computador ou dentro de cabines de interpretação pode acarretar com o tempo diversos problemas físicos. Que tal cuidarmos mais de nossa saúde? Você sabia, por exemplo, que simples movimentos em suas próprias orelhas, durante poucos minutos, faz com que o seu pescoço se alongue e que você amplie o seu grau de visão lateral? Pois é. A surpresa foi geral.

Já com ênfase na pronúncia de termos médicos em inglês, Renato Geraldes deu uma aula na apresentação “Na ponta da língua – a pronúncia de termos médicos em inglês”. Por que determinados vocábulos são pronunciados de forma diferente, conforme o posicionamento das vogais? Qual é o significado de cada um deles? Para quem já é profissional ou quer iniciar na carreira de intérprete, foi imprescindível adquirir esse conhecimento.

E por falar em interpretação, o que dizer da generosidade da palestrante Angela Levy, que nos contou sobre a sua vivência como intérprete da área médica, sobre os “causos e percalços” pelos quais já passou. Ficaríamos horas ouvindo as suas maravilhosas histórias. Aqui fica o meu abraço a essa profissional que serve de exemplo àqueles que se aventuram pela profissão de tradutor-intérprete. Mas se acharam que esse assunto terminou por aqui, puro engano. A palestra da Angela foi no sábado, mas a mesa-redonda com o tema “Interpretação de conferência na área da saúde” (nesse evento, ela era mesmo redonda… rs), formada por David Coles, Karina Flosi, Luciana Piva e Patrizia Coppola, não ficou atrás. Uma exposição de como é a realidade do intérprete, quais as dificuldades que ele enfrenta, como é formada a parceria com outros profissionais da área, que materiais de apoio são disponibilizados antes de um evento e muitas outras dicas e orientações fundamentais a um iniciante e àqueles que já atuam na área. Parabéns e agradecimentos a todos os que gentilmente compartilharam dicas, orientações e sugestões.

Ainda no gênero da interpretação, no fim da tarde de sábado, tivemos a palestra “O desenvolvimento da interpretação médica no Brasil: uma comparação com o desenvolvimento da especialização nos EUA”, de Mylene Queiroz e Izabel Souza. Em pleno domingo, às cinco e meia da manhã na Austrália, onde estava, Izabel se conectou ao nosso evento e nos apresentou um comparativo entre a interpretação médica no Brasil e no exterior. Não podemos deixar de agradecê-la por essa atenção e gentileza.

NSAIDs, ACTH, SOB… siglas por toda a parte. Quem trabalha na área da saúde sabe que há inúmeras siglas com as quais o tradutor-intérprete se depara no seu dia a dia. Você sabe o significado de cada uma delas? O que é um siglário? Será que devemos manter as siglas do texto de origem exatamente iguais no texto de destino? Como as pronunciamos em uma interpretação? Flávia Romano e Suzana Gontijo sanaram todas essas dúvidas e muito mais na palestra “Para aprimorar o seu siglário e a coletânea de expressões comuns na tradução/interpretação médica”.

A bioestatística é fundamental no planejamento de pesquisas na área médica e biológica, além de uma grande aliada no desenvolvimento de novos medicamentos e no melhor entendimento de patologias. Por meio da coleta de dados, avaliação e posterior interpretação é possível saber mais sobre epidemiologia, saúde ambiental e hospitalar e vários outros campos da saúde. Esse conteúdo foi abordado na palestra “Para compreender a bioestatística”, apresentada pela Dra. Susi Maria Cortes Quevedo.

No sábado, o evento teve início com oficinas e minicursos. Infelizmente, não pude participar de todos então, posso fazer um breve relato sobre a oficina da qual participei: “Como o corpus customizado pode auxiliar o tradutor e intérprete de textos médicos?”, de Ana Julia Perroti-Garcia. Muitos tradutores, principalmente iniciantes, não conhecem a ferramenta “corpus” e nem sabem qual é a sua finalidade. Essa oficina foi importantíssima não só na parte teórica, mas também na prática. Pudemos, literalmente, e já que estávamos próximos às cantinas do Bixiga, “botar a mão na massa”. Associar o conhecimento à prática reforça o aprendizado.

Pegando o gancho da oficina mencionada anteriormente, Ana Júlia também abordou quais problemas podem ser enfrentados por tradutores e como eles podem saná-los. Tudo isso em sua palestra de domingo “Doze bombas que podem cair no colo do tradutor de textos da saúde e como desarmá-las”. Foi importante saber como devemos lidar com esses entraves no nosso dia a dia.

E quando se fala em “aprender”, logo associamos à ideia de que a palestra será exclusivamente direcionada aos que ainda não têm muita experiência em determinada área. Será mesmo? Todos nós estamos em constante aprendizado, até mesmo profissionais que já atuam na sua área há anos. Há um ditado que diz: “Se ficar parado na linha, o trem pega.”. Cada dia surgem mais novidades e nós, tradutores da área médica, temos que estar a par de novas terminologias, novos procedimentos médicos, novas leis regulatórias vigentes, novos medicamentos… A medicina é uma área em constante mudança e precisamos acompanhar esse avanço. Mas onde buscar esse aprendizado? Que livros comprar? A quais vídeos assistir? Que materiais de apoio os tradutores-intérpretes podem ter ao seu dispor? Há cursos gratuitos? Todos esses questionamentos foram abordados na palestra “A sala de aula nas suas mãos – Como se especializar na área da saúde, usando ferramentas digitais de educação”, de Denise Bobadilha.

Tudo isso em meio à confraternização durante os deliciosos cafés nos intervalos, muito bem organizados, os almoços e o jantar no sábado, nas cantinas consagradas do Bixiga.

Como é bom rever amigos, conhecer novos colegas, inclusive de outros países. “Rir, brindar e saborear!” Quem sabe uma sequência do filme de Julia Roberts, só que, dessa vez, com outros personagens: os tradutores e intérpretes da área da saúde.

Parabéns às organizadoras do Tradusa 2017, Cátia Santana e Luciane Camargo, e à equipe de apoio e aos patrocinadores.

Fica aqui a lembrança e a saudade dos momentos alegres e tão enriquecidos de conhecimento, e o gostinho de “quero mais no ano que vem”.

Ligia Ribeiro é tradutora brasileira, pós-graduada em Tradução em Inglês pela universidade Estácio de Sá. Membro da APTRAD (Associação Portuguesa de Tradutores e Intérpretes). Tradutora médica independente e revisora dos idiomas inglês e espanhol para o português-BR. Tradutora para dublagem e legendadora certificada. Audiodescritora certificada das áreas: cultural, educacional, eventos e produções audiovisuais em português-BR.

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